Eduardo Cardoso, Coordenador do MSTL, e Coordenador Geral da CMP, esteve na Amazônia, em um encontro com diversas entidades do campo e da cidade.
O encontro aconteceu entre os dias 03 e 08 de maio de 2015 com o tema “Solidariedade entre os Povos da Floresta, do Campo e da Cidade”. Participaram do encontro os movimentos e organizações: Central de Movimentos Populares (CMP), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), União Nacional por Moradia Popular, Associação e Serviço de Cooperação com o povo Yanomami (SECOYA) e Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV).
Envolvido com a musicalidade e a pintura dos povos Yanomami e Ticuna se realiza o Encontro Anual do Programa Brasil de E-CHANGER/COMUNDO no sítio Poraquê em Rio Preto da Eva, Amazonas.
Depois de um banho no Igarapé os 21 participantes do encontro foram recebidos por um ritual Yanomami com pinturas características desse povo quando o mesmo recebe visitantes e se prepara para os eventos festivos e celebrativos em seus xaponos (aldeias). Embalados por este momento com tamanho simbolismo os participantes construíram uma linha do tempo em forma de rio que remontou a história de lutas e conquistas do programa Brasil de E-CHANGER nos seus 20 anos (1995 a 2015). Este momento foi carregado de emoção e marcado pelo reconhecimento do papel deste programa no contexto dos movimentos e organizações ali presentes na construção de uma rede de solidariedade, de uma transformação social contributiva, mas que necessita ser continuada, perseguida, conquistada pelos povos que sofrem os impactos e a marginalização de uma sociedade regida pelo sistema capitalista e nas justiças no Brasil e no mundo. Segundo Sílvio Cavuscens (SECOYA) e Djalma Costa (Coord. Programa Brasil de E-CHANGER), o início do programa Brasil marcou a transição de um conceito de voluntariado, numa visão mais “romântica”, para uma cooperação centrada no protagonismo das bases sociais.
Em seguida um debate com a colaboração de João Neves Galibi (Secretário da COIAB), Hipólito Yanomami e Sílvio Cavuscens apresentou a conjuntura atual dos povos indígenas, suas demandas e lutas. Os debatedores destacaram a retomada da organização do movimento indígena que espera há mais de uma década pelo avanço na política de fortalecimento desses povos, no atendimento às suas principais necessidades, como: a demarcação de seus territórios, assistência devida à saúde e educação, dentre outros serviços essenciais à dignidade indígena e à melhoria na sua qualidade de vida. Não bastasse a falta de uma política oficial apropriada da parte do governo, os indígenas sofrem ameaças constantes do agronegócio e dos garimpeiros que afetam cada vez mais sua segurança e direito à vida.
Depois de um dia de trabalho o encontro presenteou aos seus participantes com uma mostra da música da cantora Djuena, do povo indígena Ticuna. Ao seu lado esteve o companheiro e percussionista Diego, que cantou suas composições inspiradas na cultura e na realidade de seu povo.
O segundo dia do encontro propiciou uma caminhada pela Floresta Amazônica. Foram cinco horas de intensas observações e conhecimentos repassados por gente que se desenvolveu nesta região, enfrentando seus desafios naturais e de uma sociedade que a sufoca, mas aproveitando dos seus tantos potenciais e lutando pela manutenção deste bioma vital aos povos, inclusive os indígenas que vivem nesta floresta.
A programação desse dia ainda possibilitou a realização de uma reunião entre a coordenação do Programa Brasil de E-CHANGER COMUNDO e representantes de organizações parceiras e outra entre cooper-atores/as nacionais e suíços. Socializaram-se e discutiram os assuntos e encaminhamentos propostos. Em foco, a situação atual do Programa Brasil e a conjuntura da aliança COMUNDO na Suíça, com seus grandes desafios. Na perspectiva de E-CHANGER Brasil busca-se uma cooperação solidária com valorização dos povos, seu protagonismo, culturas e lutas.
No terceiro dia, houve a visita a uma experiência de aldeia multi-etnica, com povos Satere-Maue, Tukano e Ticuna, onde pudemos conhecer um pouco da história destes povos neste local, e como é a convivência com a sociedade urbana (nape). A recepção foi a luz da cultura dos povos indígenas, com um belo assado (muquiado) de peixes da região, e de diálogo e trocas de experiências.
No quarto dia, houveram debates sobre feminismo, onde em oficina promovida pela Marcha Mundial das Mulheres, pudemos ver as diferenças da carga de trabalho entre Homens e Mulheres, sendo observado a maior carga de trabalho das mulheres, sem muitas vezes, o devido reconhecimento ou remuneração. Ainda neste dia, foram discutidos os rumos e desafios de E-CHANGER, e definiu-se que as entidades parceiras, estão a disposição para fortalecer e apoiar a filosofia e visão de solidariedade de E-CHANGER no sentido de manter sua identidade e sua história.
No último dia, foram feitas as avaliações do encontro, o fechamento dos encaminhamentos finais e a mística de encerramento, regada a música, gritos de ordem e compromissos com a luta e a articulação entre as entidades presentes.